
Talvez…pudesse ter ficado horas ali! Sozinha naquele banco a imaginar mil e uma coisas! Não mudaria nada, nem tão pouco eu poderia imaginar a realidade! Estava frio e chovia como nunca! Eu molhada, encolhida no banco nu, deixei-me chorar, sem encontrar sequer sentido para o que te queria dizer! Pensei em ir embora, pensei na possível discussão, pensei no beijo… Na verdade, não sabia muito bem o que estava eu ali a fazer!
Quando te vi ao longe… uma vez mais, achei-te belo! No peito, algo começou a saltar descompassadamente, sem ritmo, sem nada… sabia que em segundos iria ter que dizer alguma coisa e não sabia sequer, por onde começar!
Enquanto me perdia nestes dilemas pessoais, já tu estavas mais perto do que o meu cérebro podia suportar para pensar e do nada… abriste a mão e deste-me um sorriso! Na situação presente, era o que menos esperava e logo aí, acabaste por me desarmar por completo!
Num frente a frente, foste abrindo a alma e o coração! Não conseguia muito bem olhar-te, não sei porquê… Acho que tinha medo do que pudesses dizer! Fui ouvindo, comentando e de cada vez que me era obrigado falar, sentia dificuldade em prenunciar as palavras, com medo de errar, de não ser fiel ao que sinto e penso, medo de te dizer algo que te magoasse mais, medo de ser eu a iniciar a tão temida discussão… Sem me aperceber, tu foste-te expondo cada vez mais e à medida que falavas, comecei a sentir o crescente de emoção, até que olhei para ti… o esforço era mais que visível, não querias chorar! Num impulso, avancei para ti no intuito de te abraçar, mas retive-me bem perto, com medo da tua reacção... Apertei as tuas mãos nas minhas! Queria que percebesses que a partir daquele momento, já não me importava mais dúvidas, confusões, não me importava mais que não me esperasses como tua amante, mulher… Naquele momento, só queria cuidar de ti, mostrar-te que não seriam dois meses que mudariam a amizade, a cumplicidade, a proximidade… eu só queria poder evitar, que aquelas malditas lágrimas que via nos teus olhos caíssem! Nunca te tinha visto chorar! Tal como já esperava, senti a tua reticência em que te segurasse na mão, que te acarinhasse o rosto… nesse momento, não estava a olhar-te como amante, estava apenas a mostrar-te o meu carinho, mas compreendi!
Poderiam vir mil conversas, mil insultos, discussões, juras de amor… acho que não trocaria a nossa conversa de hoje por nada! Eu vi-te, sem mascaras, medos… sem nada! Vi-te a ti e tentei mostrar-me! Esta honra, não trocaria por nada!
Não vou deixar de ter dúvidas, não vou deixar de procurar certezas, mas… a simplicidade do nosso, só nosso, momento, encheu-me de um conforto sem fim! Conforto que não quero perder por nada!
Eu vou guardar, cada lugar teu… o teu rosto, as tuas lágrimas, o teu eu! Guardo tudo isto, na memória de um abraço em que eu fui tua e te senti, meu!
Filipa
16-8-2006