limbo dos sonhos

Porque todos nós sonhamos... nem que seja por um momento apenas!

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Localização: Gondomar, Porto, Portugal

Sou apenas mais uma, daquelas que prefere a luz às sombras!

sábado, outubro 21, 2006

Obrigada


Despi-me lentamente… Sem pensar no que fazia! Dentro de mim rodopiavam ideias, confusões e a eterna e incomoda parvónia! Liguei a água do chuveiro e retirei as últimas peças de roupa… Naquele invólucro de tijoleira fria, um arrepio percorreu o meu corpo e por momentos, parei em frente ao espelho a olhar um corpo estranho e disforme, coroado pela pele crespa do frio! Rapidamente a parvónia me invadiu de novo e os pensamentos recomeçaram… antes que ela ganhasse espaço e tempo, saltei para o chuveiro!

Fechei os olhos e deixei-me molhar pela água quente, que lentamente foi estabilizando a minha pele… No escuro de mim mesma, deixei-me imaginar… Estava numa estrada, povoada de gente, de carros, de velocidade, de confusão… De um lado estavas tu, do outro, uma vida desconhecida! Olhei-a de relance… parece-me tão sem sabor! Tu de costas voltadas… Eu com a certeza ingrata, de que podia chamar o teu nome, podia grita-lo que tu não olharias para trás! Chovia terrivelmente e eu sei que por entre as gotas frias, chorava baixinho!

Sabia de onde fora buscar todas aquelas imagens, a um texto que acabara de ler… Senti-me viva dentro daquelas palavras e personifiquei em imagens tudo o que lia! Foi ali, no banho depois de mais um dia estafante, que tudo se manifestou… porém, a historia não era a mesma! O tempo, era bem mais avançado… só uma coisa era comum, tu!

Enquanto me fui deixando perder nos pensamentos, lembrei as palavras de alguém… “Como é possível haver tanta confusão aí dentro? Como é possível que no meio disto tudo, seja tão fácil julgar-te mal?”. Sorri enternecida! Em alguns momentos da vida, palavras como aquelas, ou como o simples “obrigado” que acabaram de ler, fazem-nos rejuvenescer, voltam a restaurar a vitalidade, a esperança…

É verdade, estou no meio da estrada, a sentir o sabor e o frio(ou ausência de calor) da chuva… pessoas que me embatem, rostos, sorrisos, olhares, vidas… imensas vidas! Presa na confusão de mim mesma, na angústia que vãmente tento arrancar do peito, do pensamento… Posso passar para o outro lado, posso ficar aqui no meio, mas não sei se posso voltar para o lugar onde te encontras…

Para mim, algumas mãos se estendem, mais do que as que esperava, confesso! Mas sou eu que não as aceito, porque não faz simplesmente… sentido! Escuto, agradeço, abraço mas seguir com eles, não!

“Nesta terra, esperança é uma palavra vã!”. Quantas vezes disse isto? A verdade é que hoje isso se inverte… Esperança, inunda-me e tudo isso, porque no momento certo, naquele em que me deixar atropelar por um qualquer carro desta estrada parecia ser a única saída, alguém chega e na sua humilde simplicidade me faz sorrir e querer ficar! Não importa se aqui no meio ou se noutro lado qualquer, importa ficar e contrariar a parvónia que ás vezes me transcende!

Desligo a torneira! Foi revitalizante este banho quente, foi positivo perder-me desta vez em imagens e pensamentos, ao contrario do que acontece normalmente… Seco o meu corpo e inesperadamente, um sorriso brinda-me no espelho!

Agora é a minha vez: obrigada!

Filipa Castro

21-10-2006

domingo, outubro 08, 2006

vida na praia



Resigno-me às minhas faltas… à solidão que eu própria criei! A minha última oportunidade passou e eu não consegui chegar a tempo! A solidão é um misto de tristeza, raiva, ódio e muita angústia! Quando pisei esta praia, já não era a pessoa que um dia fui lá trás… e era isso que te queria mostrar! Mas não posso obrigar-te a confiares… fui eu que um dia, com a minha cobardia, decidi, matar a tua confiança! Exigir? Não! Não te quero impor nada… magoa?! Muito… Mea culpa!

No dia em que cá cheguei, que te vi ao longe… senti que quando gritei… um paço teu se prendeu na incerteza! Mas tu continuaste…

Aqui os dias são longos… Saio cedo, sento-me no esporão e fico a olhar o mar… gosto quando ele está calmo… vai-me embalando lentamente nesta minha espera sem data marcada para terminar! Mas quando ele está mais bravo, as ondas dele parece que me açoitam o rosto e então… choro! Pelo medo de te perder, pela raiva do meu passado que acredita, queria apagar, mas não posso! Pela tristeza de um dia ter matado a tua confiança… choro, sem vergonha de to dizer, porque não sou perfeita e todo o Homem chora quando lhe dói tudo por dentro!

Há dias em que ao longe, parece que te vejo aproximar… Visto o meu vestido preto, prendo o cabelo, monto tudo no alpendre…aquele jantar prometido, lembraste? E fico sentada a trautear coisas que me lembram os nossos sonhos, os poucos que nos permitimos a ter juntos e acrescento-lhe todos os meus, todos os que tenho…

Nesses dias a noite vem lentamente, às vezes…tão perdida! A lua sobe e vai fazendo o seu caminho… Nem sempre o chão da minha alma se mantém seguro… principalmente nestes dias, sinto mais forte o medo e não há mais nada a que me possa abraçar, que não seja a noite! Quando a lua desce e beija o mar novamente… eu acordo do meu transe e sei… foi mais um falso alarme! Dói? Às vezes… outras… apenas serve para que eu acrescente aos já existentes, milhentos sonhos que me alimentam e me dão a esperança, a força…

Há dias em que penso que não vais voltar… mas depois, lembro-me que tudo o que pensas que eu sou, que na verdade eu não sou mais e por isso, quero ficar aqui para to mostrar e poder mudar um pouco o que pensas de mim! É isso que me alenta sempre mais… a esperança de te mostrar quem sou e de te fazer, o príncipe, o rei, o homem mais feliz do universo! Eu espero… o meu relógio parou de vez, agora, tenho todo o tempo do mundo!

Filipa Castro

5-10-2006

terça-feira, outubro 03, 2006

Um segundo tarde


Olhei para o relógio… Ainda tinha um minuto, o último, talvez! Corri desesperada para aquele lugar… o teu lugar! Atravessei a cidade… foi estranho, não vi montras, não vi gente, não vi carros, não senti ruídos, nada… a cidade parecia-me surda e toda a gente que me passava perto, rente, que se embatia em mim, pareciam fantasmas! Eu só via uma coisa… a praia!

50 segundos…

No meu peito, um medo, uma angústia… uma fúria de mim mesma misturada com a felicidade suprema! Trauteava baixinho algumas músicas, todas elas tuas… todas elas me transportavam para ti, para a tua imagem, para os sonhos que tive, para a praia… “…underful life is now your in the world…”, “… I love you until my dying day…”, “Eu vou esperar sempre por ti”! Era esta última que me fazia avançar, que não deixava que o meu peito explodisse de medo…

40 segundos…

E eu não continha a ansiedade… comecei a correr, a sentir o vento, as lágrimas, o silêncio pesado… Foi aí que o Hugo me falou: “vai ficar tudo bem”! Parei, respirei fundo. O Hugo nunca se engana!

30 segundos…

Ao longe, já via a praia, o lugar da paz, o meu porto, o meu destino… o mar estava estranhamente calmo e isso fez-me sorrir! Continuei sempre num passo ligeiro, uma única falha e estaria tudo perdido no tempo, no espaço, dentro de mim! Comecei a imaginar-te, a tua surpresa, o teu sorriso feliz, os teus gestos, o teu abraço…

20 segundos…

Pisei a areia! O coração disparou… acelerei mais o passo a sorrir, a chorar! Vi ao longe a casa na praia, o alpendre com um grande banco, uma mesa… era ali, não me tinha enganado!

10 segundos…

Calculei a distância… Olhei o relógio, pela última vez, suponho! Comecei a correr… quando toquei na parede de madeira cravejada de sal, senti-me mais que livre, mais que feliz, mais que eu mesma… parei finalmente! Subi as escadas lentamente, não te tinha visto sair, logo, estavas ali…à minha espera, como me prometeras numa noite em que sonhamos juntos embrenhados nos sorrisos sinceros de uma felicidade inexplicável! Estava tudo como me disseras… o sol quase a tocar o mar, uma manta ali perto com um jantar… a noite prometida, o sonho, a nova, aquela verdadeira realidade! Senti-me como uma escolhida de Deus, uma privilegiada a quem Ele dera a sua última oportunidade… Coloquei-me diante da porta! Imaginei o que estarias a fazer no último segundo do meu minuto para te fazer feliz… Olhei de novo o mar, e por um momento, perdi-me na minha felicidade, misturada com o horizonte, o pôr-do-sol, a noite… a perfeição! Agora, sei que esse momento, foi o momento fatal!

0 segundos (pensei)…

Entrei, olhei em volta… Não te vi! Estava tudo em silêncio… só o mar lá fora dava sinais de vida! Sem encontrar uma explicação, olhei em volta… Não fazia sentido, nada fazia sentido, então… uma outra porta! A porta das traseiras, estava aberta para trás…olhei o relógio, passava um segundo! Foi nesse momento… o relógio parou para sempre!

Corri desesperada para lá… vi as tuas pegadas…vi ao longe a silhueta… consegues ouvir? Estou a gritar por ti, estou aqui!!! Estou AQUI a pedir-te perdão! Mas tu não olhas, tu não encaras, tu não queres falar… Um segundo, é tempo de mais para ti? Estou presa nesse segundo... nao consigo avansar!

2-10-2006

Filipa Castro