Abraça-me

- Abraça-me!
Era tudo o que te queria dizer! Estávamos sozinhos, envolvidos no role da manhã, na solidão de mim mesma e de algo teu que não consigo descodificar, que não consigo nunca perceber… Às vezes gostava de olhar para ti e saber exactamente o que pensas, o que sentes, o que queres… mas não consigo!
Um abraço! Um único como os de mais tão especiais… Não era por te amar, não era por ter saudades, não era por sentir incrivelmente a tua falta durante toda a semana… era simplesmente, porque somos amigos!
Dei comigo a olhar-te com um aperto grande no peito… estavas de costas a olhar o placar!
Fechei os olhos por uns segundos…
Levantei-me, fui ao teu encontro e fiquei mesmo atrás de ti… como um felino sorrateiro, sem barulho, sem me denunciar!
Voltaste-te lentamente e ficaste muito perto! Olhei-te sem saber o que dizer… as palavras não me faziam muito sentido para te pedir isto, fossem elas quais fossem! Sabia que nos meus olhos brilhava o desespero do meu sentido desnorteado, o meu sentir-me completamente e incrivelmente perdida… As tuas mãos meigas seguravam-me o rosto…sorriste! Depois abraçaste-me com força, com aquele jeitinho que tu sabes fazer, e o meu coração explodiu descompassado!
Abri os olhos! Continuavas de costas com os olhos no placar e à nossa volta um silêncio ensurdecedor pairava…
Voltaste-te, desta vez porém, bem longe da cadeira onde eu estava sentada!
- Vou comprar qualquer coisa para comer, vens?
Corrente quebrada! Zero! Bah… Sou assim tão boa actriz que te pareça bem quando dentro de mim tudo se desmorona?!
Não queria pedir-te que me amasses! Não queria pedir-te que me beijasses! Não queria pedir-te nada extravagante! Só queria pedir-te um abraço, um abraço de um grande amigo!
Mas talvez a culpa tenha sido mesmo minha, eu é que deveria ter encontrado as palavras, para te dizer unicamente: “Abraça-me!”
Filipa Castro
18-11-2006