Fomos actores a sério

Tu nunca me abraçaste assim!
Por momentos, pensei que tinha voltado no tempo, pensei que não havia mais nada!
Estava quente, abafado… Algures lá fora, sei que estava frio, pico do Inverno triste e solitário!
Sem saber como ou porquê, o palco onde sempre quis ser a actriz principal, prendeu-me num momento antagónico, agarrou-me a um momento de uma angústia incontida!
As cadeiras estavam vazias, completamente despidas de aplausos e de glórias! O auditório, silencioso! Um silêncio pesaroso que nos faz dobrar os ombros com o peso… Luzes apagadas! Nada de brilhos!
Sentei-me sobre mim mesma no centro da enorme prancha de lançamento para o mundo do espectáculo, dos palcos, dos sonhos sempre possíveis! Abracei-me, e tentei esconder bem no fundo do coração, do olhar, de mim, toda a raiva, todo o ódio, toda a mágoa… Não de ti, não de mim mas de tudo!
Naquele momento eu era tua, tu meu e amávamo-nos!
(amor?! Que palavra tão estranha!)
Lentamente, mas muito facilmente, fui encaixando cada pedacinho desta carapaça, cada peça desta armadura indestrutível, forte, dura e inatingível (julguei)! Roupas desgastadas, velhas, não as minhas (embora as minhas sejam piores)! Maquilhagem para esconder toda a tristeza incontrolada!
Pronta!
Para não ser eu! Para ser alguém que quis ser um dia (não há muito tempo).
Acenderam-se as luzes, as cadeiras pululavam de uma glória contida para o derradeiro final!
A tua mão agarrou a minha num medo diferente, de uma forma como nunca o fizeste… Falei-te, dei-me… fui a tua mulher! Prendi uma vez mais lágrimas que queriam fugir (não sei mais porquê, se por mim, se por ti, por nós ou simplesmente pela mágoa incontrolável do “hoje”)!
Abracei-te e por momentos fui, fomos o que tanto quisemos ser! Senti como se me prendesses naquele abraço incontrolado onde ambos tremíamos como quem não quer largar mais… Sei que nos demoramos um segundo mais neste abraço do que era normal (mas o que é o normal afinal neste rio que não parece comandar vida nenhuma para lado algum?!)
No fim eu disse, como tinha que ser, como ditava o guião daquela peça estranhamente familiar… disse-te com os olhos, com um simples olhar, como qualquer mulher diria ao seu homem quando sente que este se escapa por entre os dedos: amo-te!
Parabéns! Conseguimos! Fomos por segundos tudo o que quisemos ser por tantos meses! A glória corou-nos, os aplausos ensurdeceram-nos, a peça terminou! Mais lágrimas rolaram…
Inevitavelmente o grito que determinou o fim da nossa glória, determinou também, novamente, o fim do que conseguimos ser por uns segundos apenas!
Filipa Castro
6-1-2007
1 Comments:
bravo, bravissimo..
..isn't life a play?.. and we're all unrehearsed.
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